segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Slow content como estilo de vida

A estrategista de mercado Sue Coutinho mostra para as marcas que quanto menos conteúdo, mais estratégico e melhor é a entrega na internet

Grande quantidade de textos, dados e informações — e no meio disso tudo as fake news, notícias falsas — são presenciados diariamente e a todo o momento no mundo. Mas não para por aí: a cada hora há o impacto de conteúdos novos publicados pelos criadores digitais nas mídias sociais. O slow content vai contra isso: é um pedido para ir mais devagar. Suellen Alves de Souza Coutinho, mais conhecida como Sue Coutinho na internet, é entusiasta de uma vida online mais positiva e criativa e tem o sonho de que a criação de conteúdo desacelerado não seja considerada como fora do normal no futuro.

Graduada em Moda com ênfase em Gestão de Produto e pós-graduanda em Marketing, Branding e Growth na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), ela trabalhou com grandes marcas do varejo, como a Privalia e o conglomerado de empresas têxteis Inditex, até conhecer o universo da economia criativa em 2017.

Sue, de 23 anos, começou a criar na internet de forma profissional aos 16, quando empreendeu com as marcas que lançou e organizava brechós mensalmente com as amigas na laje de casas das periferias de São Paulo. Mas desde os 11 escrevia sobre os assuntos que mais gostava nos blogs que tinha.

Em 2018, ela iniciou o Projeto Árvore, uma agência de comunicação e design digital para marcas sustentáveis que desenvolveu mais de 30 projetos no Brasil inteiro. Após isso, decidiu focar no próprio nome como forma de trabalho.

Com mais de 6 mil seguidores no Instagram e leitores no próprio site e na plataforma de blog Medium, Sue trabalha na criação de campanhas de marketing consciente. Área em que a ética é a palavra de ordem para todos os processos de uma marca, a estrategista conduz as empresas na comunicação por meio de narrativas autênticas e descentralizadas.

Slow content como filosofia de vida

Sue Coutinho conta que foi criança favelada e que, como todas que moram em comunidades carentes, teve que correr muito para sobreviver no sistema. Para ela, o slow vem mais de comunidades antigas do que de um movimento italiano, liderado por Carlo Petrini, pois considera que “a agitação constante não é normal de gente de verdade”. Mas como transitar de um ritmo acelerado para o slow?

De acordo com Sue, a velocidade da internet não é a da vida real, de modo que a postura ocidental faz com que a pessoa trabalhe sem parar e a inteligência artificial, como o algoritmo das mídias sociais, dribla o funcionamento natural de um conteúdo.

Sue avalia que, em algumas situações, o estilo slow pode existir de forma natural quando não estamos conectados à internet. Ela acredita que, um bom exemplo disso, é o que aconteceu com a audiência do podcast AmarElo Prisma, que compõe um projeto multiplataforma do rapper Emicida. Jovens que pegavam ônibus, colocavam o fone de ouvido e escutavam o episódio no caminho para a aula ou o trabalho. Para Sue, “o slow tem a raiz na favela, principalmente de quem não tem tempo e não pode ser telespectador da vida dos outros”.

A estrategista, que morava em São Paulo e atualmente está em Salvador, na Bahia, também pratica o slow travel na própria vida. Mais um movimento do slow que vai ao encontro da negativa do acelerado, contra a rapidez, que leva em consideração a viagem mais consciente e com propósito, e que entende a rotina e cultura do lugar visitado de forma mais ampla, a favor de experienciar e viver por completo.

Para Sue, as pessoas não fazem o slow content em primeiro momento: elas vivem o slow living e, pela experiência, conhecem o modo de criação consciente. O movimento desacelerado é político, de articulação e de cobranças de responsabilidade. De tal forma que as empresas criadoras das mídias precisam arcar com os impactos na sociedade e o slow luta para que isso seja feito.

Slow content se torna, então, uma filosofia de vida, em que cada um vive com o próprio ritmo e leva isso para a criação de conteúdo individual. Sue declara que isso deveria ser o normal, pois o contrário deixa as pessoas ansiosas e sem reflexão. “É preciso se questionar: que internet eu quero que exista para mim, meus amigos e pessoas do outro lado da tela?”, interroga a estrategista.

Além disso, se dizem que quem não é visto, não é lembrado, Sue afirma que criando conteúdos bons para as pessoas, que agreguem valor, elas vão falar sobre, sendo um ciclo natural da vida. Tendo consistência, a autoridade é construída por repetição e afirmação. Assim, a tomada de decisão passa a se integrar com o todo. “O slow content é uma não-afirmação de que produzo menos e ponto”, declara Sue, que preza pela importância de somente vivenciar e experimentar.

A conexão é o que importa

Com o lema “o futuro é uma conversa que puxamos hoje”, Sue levanta essas e outras reflexões tanto no Instagram — que não é a plataforma de conteúdo considerada principal por ela — quanto no próprio site e no blog hospedado no Medium. Ela alerta o cuidado que deve ser tomado com as fórmulas divulgadas diariamente por pessoas na internet — do tipo “tem que” postar um número exato de conteúdos —, inclusive com o que se coloca na internet: é preciso aprender antes de ensinar.

Entretanto Sue não considera fácil respeitar o próprio ritmo ao mesmo tempo em que as mídias sociais podem privilegiar quem posta mais. Para ela, está todo mundo fazendo além da conta e dá medo de verdade. “A parte que ninguém quer fazer é conversar com as pessoas, e é isso que importa, ter essa troca”, declara Sue Coutinho.

Se o slow content preza por uma vida digital consciente, Sue afirma que as mídias sociais funcionam como ferramenta para ela e qualquer pessoa do marketing. Fotógrafos e escritores, por exemplo, já são criadores de conteúdo para a divulgação do próprio trabalho, de tal forma que a estrategista trabalha com marcas que participam desse mesmo processo.

Além da consciência, existe uma corresponsabilidade, que é preciso existir tanto do lado de quem produz quanto de quem recebe o conteúdo. Antes de ajudar as pessoas, Sue declara que precisa se colocar em primeiro lugar, assim como o slow content é sobre o indivíduo. “A internet está aí, o que você vai fazer? A vida é muito boa para se viver e precisamos experienciar”, afirma ela.

A criação para as marcas

Sue Coutinho mostra para as marcas que quanto menos conteúdo, mais estratégico e melhor é a entrega na internet. Entretanto, para ela, “as empresas não têm essa ideia de criar digitalmente de forma desacelerada: não aceitam o fato de que é possível ter resultado produzindo menos”. “A comunicação passou da fase em que a pessoa emite a mensagem e a outra aceita. É preciso dar espaço à comunicação com troca”, afirma ela.

Sue já trabalhou com marcas que postavam muito, não atingiam as pessoas e a interação era quase nula. É preciso conhecimento estratégico, assim como qualquer marketing: saber do que o negócio precisa e como chegar a esse objetivo. De tal forma que, assim como para as marcas, os criadores de conteúdo no geral também são beneficiados com o slow content: com criatividade, diferencial, autenticidade e apropriação do próprio repertório.

Para a estrategista de mercado, é importante ter experiência em outras áreas e provar delas, assim como ter referências mais artísticas e absorver esses espaços. Assim há mais exemplos para trabalhar e uma mudança na forma de produção e construção de inspirações.

Ensinamentos no analógico

Com a ideia de intoxicação como dificuldade para administrar a avalanche de informação que somos bombardeados diariamente, Sue criou um financiamento coletivo do livro “Uma conversa de presente”, que será lançado em janeiro de 2021. A obra convida a pensar nos rumos da comunicação e do marketing na contemporaneidade. São 19 ensaios sobre cultura, sociedade e comunicação divididos em cinco grandes eixos temáticos: Uma Breve Viagem; A Consciência do Tempo; Além da Tela; Cultura, Pessoas e Comunicação; e O Futuro é Consequência. 

Porém, para o livro ser lançado, Sue precisa da ajuda para cobrir as despesas com impressão e todo o trabalho editorial. As recompensas vão desde o nome de quem ajuda no financiamento nos agradecimentos do livro, e-book e livro físico até consultoria de slow content na prática com a Sue. O apoio começa em R$19. A meta é chegar a R$15 mil até dia 23 de dezembro, então falta pouco mais de uma semana para quem quiser ajudar.

Segundo ela, além do slow, a obra abordará outros temas, como democracia, racismo, marketing consciente e por que tratar dessas questões agora.


Para aprimorar ainda mais o debate, Sue indica quem cria de forma desacelerada ou ajuda nesse processo: Higor Neres, do Marketeiro de Quebrada, que ensina o marketing para a periferia; Fernanda Resende, que auxilia as pessoas a se apropriarem da própria singularidade, além de se expressarem de jeitos saudáveis na internet, no vestir e na vida; Moving Girls, marketing de comunidade para mulheres que constroem a própria história; Tiago, do Tira do Papel, que mostra como começar a criar conteúdo com constância e respeitando a saúde mental; Monique Evelle, que trabalha com criatividade e empreendedorismo, regados de reflexão; Bozoma Saint John, diretora de marketing global da plataforma de streaming Netflix e que já ocupou postos de chefia na Apple Music e Uber; M.M. Izidoro, diretor e roteirista do podcast AmarElo Prisma e que fala de criação consciente na internet; Isis Almeida, do Se Organiza, Bonita!, que mostra organização pessoal acessível, produtividade e autoestima para quem não tem grandes privilégios; e Matheus Ilt, criador de conteúdo desacelerado que faz pequenas reformas e Do It Yourself (DIY) — faça você mesmo —, além de ser apresentador do programa Arrasta Móveis no canal GNT.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Olhar para dentro e respeitar o tempo individual

Os benefícios que o slow content pode oferecer à saúde mental

Com cada vez mais conectividade à internet, crescem também os transtornos psicológicos e as mudanças nocivas à saúde no geral. Entretanto, a criação de conteúdo digital desacelerado, conhecido como slow content, pode oferecer benefícios à sanidade mental.

Segundo estudo da Universidade de Harvard, a luz azul da tela do celular ou qualquer eletrônico ocasiona um desajuste no relógio biológico. De tal forma que durante o dia os comprimentos de onda desse tipo de iluminação podem estimular a atenção, o tempo de resposta e até o humor, enquanto à noite os efeitos são negativos. Há uma diminuição dos níveis de melatonina — conhecida como hormônio do sono, que induz o indivíduo a dormir —, prejudicando a qualidade do descanso da pessoa.

Em um outro estudo, realizado pela MindMiners — empresa de tecnologia de São Paulo especializada em pesquisa digital — em parceria com o Núcleo de Inovação em Mídia Digital da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), 87% dos entrevistados afirmam acessar as mídias sociais antes de dormir, enquanto entre jovens de 18 a 24 anos esse número sobe para 94%.

A alimentação também é prejudicada — 47% dos entrevistados afirmam usar as mídias sociais durante as refeições —, ao mesmo tempo em que 31% já foram diagnosticados com ansiedade e 18% com depressão.

Por meio desse acesso cada vez maior à internet, a saúde mental pode ficar abalada. Para Felipe Alisson de Oliveira, analista de Recursos Humanos, de 28 anos, a internet se comporta como algo tóxico. “Considero tóxica por vermos coisas que não deveríamos, além de dispersar o tempo. Já tentei ficar longe das mídias sociais, mas acho que o vício é tão grande que é difícil de largar”, afirma Felipe. Ele acessa diariamente o Twitter, Facebook, Instagram e LinkedIn, mas mais quando recebe alguma notificação ou no tempo livre.

Já para a psicóloga Ana Luisa Lins Brandão, que publica no Instagram para conseguir visibilidade para o próprio consultório, a cobrança é grande para ter um conteúdo bom e que agregue no meio de tantos outros perfis. A maior parte dos pacientes dela são mulheres entre 18 e 25 anos e que sofrem de ansiedade.

Com a abordagem sistêmica — que abrange o todo por meio da análise das partes que formam o indivíduo —, Ana Luisa leva em consideração a integralidade da situação e entende que tudo está inserido em um contexto. De tal forma que a pessoa que chega na terapia descobre em que momento começou a própria ansiedade, onde está presente, como apareceu e o que se torna gatilho. Os transtornos, de acordo com a profissional, causam padrões comportamentais, sendo eles repetidos, entretanto as pacientes não fogem do que são. “Na terapia, sabemos quais padrões são saudáveis ou não e até que ponto a pessoa está aberta para mudanças”, afirma a psicóloga.

Os benefícios do slow content à saúde mental

O slow content mostra que a velocidade da internet é diferente à da vida real e leva em consideração o tempo individual de cada pessoa para a criação. Segundo a psicóloga Ana Luisa, olhar para dentro é respeitar essa singularidade para conseguir alcançar os objetivos pessoais da melhor maneira.

Ter como primordial o tempo individual é benéfico tanto para quem cria quanto para quem consome determinado conteúdo. Enquanto quem cria pode ficar refém, precisar registrar tudo, estar em lugares, fazer sempre algo para produzir e se não postar algo aquilo não ser considerado como real, quem consome tem a necessidade de estar sempre atualizado e, consequentemente, receber conteúdos além do que consegue digerir.

Mas qual o propósito dessa criação? É preciso sair do automático e tornar importantes os momentos de descanso. De acordo com a psicóloga Ana Luisa, mesmo as mídias digitais, principalmente o Instagram, estando com cada vez mais ferramentas, é necessário se permitir ficar no escuro, longe das telas dos eletrônicos, para não afetar outras áreas da vida, que ocasionariam estresse alto e ansiedade. Além disso, muitas pessoas colocam a própria autoestima na mídia social e não olham para outro aspecto, o que pode fazer com que a dependência digital apareça.

E não é só a saúde mental que sofre com a quantidade cada vez maior de informações e conteúdos diários: a vida como um todo também. Para a psicóloga, é preciso encontrar um equilíbrio, usar a internet de forma saudável, ter um horário específico para produzir e consumir, entender o que funciona para si mesmo, saber qual a disponibilidade emocional para essa criação e ter sempre em mente o propósito de estar fazendo isso. “É importante que a saúde mental seja compatível com aquilo que se diz na internet”, declara Ana.

Ainda conforme dados da pesquisa realizada pela MindMiners e o Núcleo de Inovação em Mídia Digital da FAAP, 56% dos entrevistados concordam em algum grau com a afirmação de que se abandonassem as mídias sociais ficariam desatualizados sobre alguns acontecimentos do círculo de amigos.

Síndrome de FoMO

É o que acontece com a hiperconectividade por meio da síndrome de FoMO. “Fear of Missing Out”, que traduzido em português é o medo de ficar de fora, foi descrito pela primeira vez em 2000 pelo estrategista de marketing norte-americano Dan Herman e definido anos depois pelos pesquisadores de Harvard e Oxford Andrew Pzybylski e Patrick MCGinnis como um medo de que outras pessoas tenham boas experiências que você não tem. É um dos principais sintomas de alguém que está viciado em mídias sociais: o receio de perder algo incentiva a conexão incessante para saber de tudo. A FoMO pode causar desde angústia e mau humor até depressão.

Felipe Alisson revela que já sentiu estar perdendo algo que os amigos mostravam na internet, mas não se importa tanto. Ele não procurou ajuda psicológica para entender a dependência com as mídias sociais, pois desativou algumas vezes, porém acha que acaba sendo muito solitário e por isso volta para o digital.


Mesmo com a hiperconectividade, o slow content é possível

O ritmo de criação da pessoa é o próprio dela ou aquele imposto pela velocidade da internet? Para a publicitária Luciana Manfroi, mestre em Ciências da Linguagem, com experiência desde 1996 em marketing e cinco livros publicados, os criadores de conteúdo têm compromissos com as marcas que os contratam para fazer publicidade.

Luciana explica que é preciso entender quem é a pessoa que produz, que há ética e questões humanas por trás e visualizar esse criador contratado como um veículo da marca. Se o rendimento não for o esperado, por exemplo, é preciso o disparo de um conteúdo mais instantâneo e acelerado — fast content — para que o nível da marca não decaia. Além disso, é necessário perceber que do outro lado da tela há uma pessoa de carne e osso, assim dando menos importância para quantidade de seguidores e não fazendo um esforço plástico, mas real.

Qualquer mídia social, para não perder usuários conectados, possui estratégia mercadológica bem estudada e pensada, de forma que tentem fazer com que essa pessoa que diminuiu o uso digital retorne. Da mesma maneira que, para criar um conteúdo desacelerado nas mídias sociais, é necessário estar presente, ter frequência. E essas mídias valorizam quem faz essa presença dos próprios seguidores ser alta.

Considerado por muitos como o terror das mídias sociais, o algoritmo tem a própria interpretação alterada constantemente, inclusive por cada um dos usuários, que ensina a máquina por meio das ações que faz. Porém, de acordo com Luciana Manfroi, o algoritmo também ensina, pois cria um ambiente único, em que capta o ser humano e cria uma narrativa, com formato, linguagem e plataforma que atraem. “Quem não gosta de uma forma de se envolver?”, questiona a publicitária.

Na criação de conteúdo é necessário envolver, ter uma linguagem mais próxima e não a alterar, ter domínio no que fala, independentemente de ser slow ou fast content, e entender o objetivo de comunicação. Com isso, a possibilidade de ter mais pessoas acompanhando o conteúdo produzido é grande, ainda de acordo com Luciana, que afirma não existir receita de bolo, mas entender individualmente, pois qualquer estratégia precisa de pesquisa.

Porém também existem responsabilidades para os dois lados. “Se não é possível publicar todos os dias e se a quantidade grande gera menos qualidade no conteúdo, é importante mudar essa forma. Não podemos ser máquinas, precisamos criar para nos diferenciar delas. As máquinas querem criar e o que sobra do ser humano é a questão social, de afeto e a criatividade”, declara a especialista.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Slow content na teoria e na prática

Conheça a Contente, empresa de São Paulo que vivencia e divulga o pensamento desacelerado

Com a hashtag AInternetQueAGenteQuer espalhada pelo Instagram — são mais de 3.200 publicações —, a empresa Contente, de São Paulo, presente há 10 anos no mercado e pouco mais de um ano na mídia social como @contente.vc e no próprio site, quer promover o slow content como uma das formas de construir um espaço digital mais consciente.

Definida como um estúdio de criação, a Contente foi criada pela jornalista Daniela Arrais e a publicitária Luiza Voll, amigas que tinham a ideia de construir uma internet mais consciente, fluida e criativa, além de transformar essa vontade em um trabalho. O desejo surgiu quando as duas entenderam que vários dos assuntos que abordavam no próprio site, com clientes, em palestras e entrevistas poderiam ser levados para um público maior também nas mídias sociais.

Atualmente, além das sócias-fundadoras, a equipe conta com uma gerente de comunidade, Ylanna Pires, responsável pelo relacionamento com a audiência nos canais de comunicação, e com um estúdio parceiro de design para produção das peças visuais. Dani e Luiza consideram que falar sobre os impactos da cultura digital é uma pauta indispensável da década atual.

É por meio da construção de conversas e conteúdos digitais e offline que a empresa consegue engajar ainda mais pessoas nessa discussão que não tem fim. Com os pilares de comunicação e educação presentes no que a equipe faz, ela distribui conteúdo, promove o movimento pela hashtag, ensina pela escola online e se relaciona com empresas e instituições pela Contente in company. E de que forma ocorre tudo isso?

A Contente garante que produz conteúdos de forma autoral e com profundidade, sempre acompanhada por uma direção de arte impactante, tanto para os canais próprios quanto para marcas parceiras e agências em projetos comerciais. Pelo movimento #AInternetQueAGenteQuer, há a presença de mídia e plataforma educacional para marcas e instituições que desejam compartilhar mensagens com uma comunidade apaixonada por conversas e transformações.

Além disso, há a aposta na área da educação, vertente mais nova da empresa. O foco é em cursos para pessoas físicas, na qual teve o primeiro, Criar (s)em crise, para ajudar quem quer se expressar na internet a fazer isso com qualidade e propósito. E pela Content in company, há a realização de palestras e workshops para empresas e instituições.

O público-alvo da Contente, de maneira geral, são millennials — pessoas nascidas entre 1980 e 1995, atualmente com 25 a 40 anos, que viveram a transição do mundo analógico para o digital, da hiperconexão —, na maioria mulheres, que desejam e anseiam por discussões mais profundas sobre internet, mídias sociais e saúde mental dentro desse contexto. Há bastante diversidade no grupo, pessoas do Brasil todo e de idades diversas.

A descoberta do slow content

Vivenciando na rotina a produção incessante estimulada pela internet, a Contente visualiza o slow content como algo que aparece com força. Termo surgido ainda em 2006, como uma rejeição ao imediatismo, Dani e Luiza conheceram o conceito principalmente após perceberem que o movimento slow se desdobra em outros também, como o slow food. Para elas, faz todo sentido “pensar em como está sendo feito o que quer que esteja fazendo”.

Com 134 mil seguidores no Instagram — na primeira quinzena de dezembro de 2020 —, pensar em slow content é entender que essa é uma forma de produzir mais responsável consigo e com quem consome o conteúdo. Para a Contente, significa uma maneira transparente de se relacionar com a produção de conteúdo e de deixar claro para quem os acompanha que existem pessoas reais por trás daquele post, vídeo ou texto. "Isso humaniza a produção e incentiva mais pessoas a produzirem conforme a própria disponibilidade, e não apenas seguindo uma lógica algorítmica do processo”, afirmam as sócias-fundadoras, Dani Arrais e Luiza Voll.

O slow content é, de fato, uma das formas com que a Contente pretende construir #AInternetQueAGenteQuer. Optar por esse ritmo mais leve, humano e consciente de produção de conteúdo impacta toda a forma que a equipe lida com o digital e, consequentemente, com o próprio trabalho. Entre os inúmeros benefícios que eles podem destacar, está o cuidado com o próprio tempo, um bem inegociável, do ponto de vista da gerência, e a melhoria da capacidade criativa, que depende diariamente dos momentos offline e das pausas. O que pode se traduzir também no fato de a equipe não criar conteúdo somente para constar: tudo tem um motivo.

De acordo com os resultados obtidos nas mídias sociais e pessoas impactadas com os posts e o novo curso oferecido pela Contente, ela acredita que é possível uma criação mais consciente, com propósito e, consequentemente, mais desacelerado também. A equipe observa que tanto nas mídias sociais como em outros espaços no digital há um desejo coletivo de mudança e uma vontade latente de transformação.

Dani e Luiza perceberam que estavam fazendo o certo na internet ao receber uma mensagem pela primeira vez dizendo que algo que criaram gerou reflexão e transformação. Elas criam na internet há muito tempo e sempre experimentaram uma generosidade encantadora das comunidades criadas, o que mostrou que elas estavam no caminho correto.

O algoritmo não é empecilho

Para a Contente, o algoritmo principalmente do Instagram não interfere no modo de produção da equipe: ela prefere criar de acordo com o próprio ritmo. Ela concorda que algoritmo é uma incógnita e acredita que os resultados são pela construção de uma comunidade engajada e que também procura e valoriza trocas mais profundas e genuínas nas mídias.

Exercitar, alimentar e trabalhar a criatividade nada tem a ver com um ritmo desenfreado de produção ou com criações que não respeitam os próprios limites dos criadores, segundo a Contente. A criatividade anda de mãos dadas com o slow content e este permite que os momentos de pausa — essenciais para o bom desenvolvimento criativo — sejam respeitados e praticados em plenitude.

O próximo passo da empresa para tornar a internet naquilo que mais quer, com mais consciência, é o de expandir a atuação na Escola Contente, criando mais cursos que promovam reflexões sobre o mundo da internet.

A criação de conteúdo desacelerada

Com os exemplos de Ju Barbosa, no post anterior, e o da Contente neste, fica mais fácil entender como criar na contra-mão do ritmo sem freio da internet.

Segundo a plataforma de conteúdo, alguns passos são necessários: primeiro, encontrar-se no processo de criação: entender o que se quer criar, com qual propósito e em que ritmo. E assim estabelecer como tudo isso se relaciona e responde ao próprio processo criativo; em sequência, imaginar de forma prática: em que canais atuar, qual a frequência, qual abordagem adequada para continuar fiel a uma rotina produtiva mais consciente e desacelerada?

Produzir o conteúdo que gostaria de consumir é um dos principais norteadores para o slow content na internet. Com a história da Contente como inspiração, você está preparado para criar dessa forma?

Desacelere com as sugestões da Contente

O slow content vai além de uma produção mais consciente e no tempo individual. Para que uma rotina desacelerada seja possível na internet, não apenas na criação de um conteúdo digital, a Contente lista quatro sugestões:

1 - Construir uma rotina em que correr para as telas não seja a primeira ação do dia;

2 - Respeitar os momentos offline como as refeições, as conversas cara a cara — quando possível —, os de lazer com quem se ama, a hora do sono etc;

3 - Produzir, se for o caso, em um ritmo que respeite o processo criativo individual, o próprio tempo de criação e a disponibilidade no geral;

4 - Gerenciar bem o tempo de tela e a maneira como se usa esse tempo: entender que a internet é mais que mídias sociais, evitar gatilhos ou confrontos desnecessários nesse espaço, consumir informações com mais critério e calma.