Como surgiu o slow content, movimento que valoriza o conteúdo de responsabilidade
Continuando a série de posts sobre o slow content, um estilo de vida e uma filosofia de comportamento que atinge a criação de conteúdo digital, é importante pensar sobre o assunto, ainda mais em um mundo tão agitado. Diminuir o ritmo, absorver a vida ao redor e refletir sobre as próprias ações são alguns dos valores do movimento.
Essa forma desacelerada de criar um conteúdo veio do slow blogging, um manifesto criado por Todd Sieling, em 2006. Nessa época em que os blogs estavam em alta e a produção era intensificada, o designer de software do Canadá descreveu seis imperativos para a criação e disseminação de conteúdo online significativo.
Todd estabeleceu uma prática de escrita baseada na internet, que se destina a usar o meio para intervenções sociais, culturais e políticas ponderadas e duradouras. E a velocidade de criação em 2006 era menor do que agora que, com tantas mídias sociais ao mesmo tempo, torna-se mais insustentável querer dar conta de tudo.
“Slow blogging é uma rejeição ao imediatismo. É uma afirmação de que nem tudo que vale a pena ler é escrito rapidamente, e que muitos pensamentos são servidos melhor depois de completamente assados e redigidos em temperatura constante”, Todd Sieling, para o New York Times.
Apesar de não ter mais o próprio blog há alguns anos, Sieling continua sendo referência do slow blogging. Mas essa filosofia de não ser acelerado começou muito antes de 2006. Foi em 1986, na Itália, que o movimento slow food foi criado por Carlo Petrini, após uma manifestação contrária à construção do fast food McDonald’s na Piazza di Spangna, em Roma.
O movimento internacional foi fundado oficialmente em 1989, em Paris. Assinado por 15 países, o Manifesto Slow Food surgia e agora já está presente em 150 nações do mundo. Do movimento surgiram outras formas desaceleradas de viver certas ações da vida, como sempre foi e não como quiseram que fosse, principalmente após a Revolução Industrial.
Foi o que aconteceu com o slow living, que teve início junto com o slow food, em 1986. Com o objetivo de sair do piloto automático, sempre com a preocupação do tempo, nasceu esse estilo de vida que leva a um viver mais consciente, tendo como resultado leveza e equilíbrio.
Carl Honoré, jornalista e líder do movimento slow no mundo, percebeu que havia algo errado ao se sentir impaciente por ler histórias para seu filho pequeno. Ex-viciado em velocidade e rapidez, Carl adotou o estilo de vida e quis quebrar o tabu que (ainda) existe da lentidão como algo ruim. Ele é autor do livro best seller “Devagar: como um movimento mundial está desafiando o culto da velocidade”, de 2004. Em uma palestra que deu em um TED Talks, em 2005, Honoré mostra que desacelerar não é perda de tempo e que a vida é o agora.
O vídeo está em inglês, mas há tradução para o português nas legendas geradas automaticamente. Assista a seguir:
Além dos movimentos slow food, slow living e slow blogging/content, o slow fashion foi cunhado por volta do ano de 2004, em Londres, por Angela Murrills. Ele abrange um modelo de produção que valoriza um trabalho ético, contra um consumo impulsivo e de produção em massa.
Houve também o manifesto do slow media, criado por Benedikt Köhler, Sabria David e Jörg Blumtrittem, em 2010, na Alemanha. Possui relação com o jornalismo lento, estudado por Michelle Prazeres, jornalista, mestre em Comunicação e Semiótica (PUC-SP), doutora em Educação (FE- USP) e professora e coordenadora do Centro Interdisciplinar de Pesquisa (CIP) da Faculdade Cásper Líbero (SP). Ela idealizou o Desacelera SP e o Dia Sem Pressa — primeiro festival da cultura slow do Brasil. E está desenvolvendo em pesquisa de pós-doutorado no programa de Comunicação e Semiótica da PUC-SP estudo sobre as relações entre comunicação e a cultura slow, segundo informações do site de Michelle.
A jornalista é criadora do primeiro podcast totalmente dedicado ao slow living, que você pode conferir aqui — com calma, sossego da sua casa e muita reflexão:
Esse estilo de vida que abrange todas as formas desaceleradas é um incentivo a estar presente, viver o off e ter uma intenção com tudo ao redor.
Com tantas mídias sociais diferentes na palma da mão de cada pessoa, o slow content é a nova forma de denominar o slow blogging, pois houve uma migração dos antigos blogs para essas plataformas. Na teoria e na prática, as definições de slow blogging se encaixam no slow content.
Para conhecer melhor
O termo slow content é pesquisado no Google desde janeiro de 2004, havendo uma oscilação, mas sempre permanecendo nas buscas. Além disso, se comparado pelo Google Trends com o termo slow blogging, este é na maioria das vezes mais pesquisado pelo Brasil, com 23% de interesse contra 77% para o slow content.
Para aprimorar essa conversa, existem filmes, documentários e livros que apresentam os cuidados que se deve ter nas mídias, principalmente na hora de produzir.
Um deles é “O Dilema das Redes”, lançado em setembro de 2020 na plataforma de streaming Netflix. O documentário analisa o papel das mídias sociais e os danos causados por elas na sociedade, detalhados por especialistas em tecnologias e profissionais da área que já trabalharam em grandes empresas do Vale do Silício. Há também a comprovação de que os próprios usuários das mídias são o produto por meio de algoritmo para mantê-los cada vez mais tempo nas plataformas.
Também um outro exemplo é o livro de Jason Lanier, um dos precursores da realidade virtual, “Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais”, em que o título é autoexplicativo.
Com mais tempo para criar e menos preocupação com a quantidade de posts, mas ainda assim mantendo a frequência, o que resta de mais importante é criar conteúdos de valor. O objetivo é ter mais qualidade em menos quantidade e saber o que funciona para você.
No podcast Já Pensasse?, do jornalista e criador de conteúdo pernambucano Caio Braz, ele conversa em um episódio com a criadora de conteúdo Alexandra Gurgel, do Alexandrismos, e com a diretora da Obvious Agency Marcela Ceribelli para discutir sobre a possibilidade de embarcar na tendência de slow content.
A adesão ao slow content e qualquer outra forma de viver desacelerada é individual, mas é uma necessidade coletiva, como vocês poderão conferir nas próximas postagens por aqui.
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