quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Criar numa velocidade que respeite a nossa vida real

Esse é o lema de Ju Barbosa, que, aos 23 anos, descobriu no slow content uma nova metodologia para criar o próprio conteúdo na internet

Já parou para pensar na quantidade de conteúdos que você recebe diariamente seja pelo feed do Instagram ou qualquer outra mídia social? E no quanto o ritmo frenético de criação é nocivo para a saúde mental tanto sua como consumidor quanto a de quem produz digitalmente? Afinal, 21% dos criadores de conteúdo do Brasil dizem sofrer de ansiedade ou de algum episódio depressivo, segundo pesquisa do Criadores Id. Julia Garcia Barbosa, mais conhecida como Ju Barbosa na internet, decidiu que produzir numa velocidade que respeite a vida real é a melhor forma para postar e estar offline harmonicamente.

A designer de moda de Londrina, Paraná, começou a criar no Instagram e YouTube em 2018, logo após vencer o Concurso Jovens YouTubers — criado pelo Serviço Social da Indústria (SESI) e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). Ela e o outro colocado foram convidados a fazer a cobertura de um evento em Brasília e premiados com tutoria de criadores de conteúdo e equipamentos tecnológicos para iniciarem no mundo digital.

Com essa oportunidade e câmera em mãos, Ju publicou vídeos próprios de estreia no YouTube, criou um blog, continuou com o Instagram e, no mesmo ano — em meio ao Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da graduação —, participou da Corrida das Blogueiras, criada pelo canal no YouTube Diva Depressão, na qual conquistou mais público para os conteúdos.


Responsabilidade coletiva

Ju Barbosa já falava sobre dicas de moda e estilo desde o início do primeiro blog, o Invente Moda, aos 13 anos, mas na metade de 2019 parou de comprar em lojas fast fashion e decidiu focar em moda sustentável. Foi nesse mesmo ano que ela percebeu o quanto as pessoas têm um padrão de consumo de roupas e conteúdo e se torna cada vez mais necessário todos tirarem um momento para reflexão. “Precisamos saber o que isso impacta na nossa vida, dos outros e no planeta”, declara a designer.

Ela criou também o Desafio Segunda Pele, com o objetivo de alcançar quem queira adquirir conhecimento em sustentabilidade na moda. Assim, dissemina o conteúdo acadêmico de maneira acessível e descomplicada, conscientizando e empoderando o consumidor.

E todo esse pensamento sustentável também atingiu a maneira de produção da jovem. Trabalhando no estúdio de design e branding — gestão das estratégias de uma marca — durante o dia, chegava em casa à noite para criar conteúdo na internet. Apesar de não ter cobrança de horário no trabalho, apenas de entregas, Ju não conseguia dar conta da demanda que os perfis do Instagram insistiam em dizer ser o certo para a criação digital. Não tinha como fazer um post e 15 stories diariamente, além de um IGTV semanal, pelo fato de a criação não ser a única atividade que fazia na vida.

Com ansiedade, ela começou a fazer terapia em 2019 e a entender que existem limites. Considerava a entrega de conteúdos uma bagunça, até que descobriu um vídeo da Nátaly Neri, também criadora de conteúdo, em que ela abordava sobre o slow blogging — tendo o slow content como nova forma de denominação —, uma maneira mais consciente de produzir digitalmente, utilizando a internet na velocidade da vida. Ju achou que tudo fez sentido e começou a produzir de forma desacelerada.

Além de Nátaly como grande inspiração, Matheus Ilt e Sue Coutinho — que estará conversando com a gente em um próximo post aqui no blog — também fazem parte de quem ela admira no slow content. Os três criadores produzem da forma que acham mais sustentável e praticável no momento de vida de cada um.

Mudança no processo

Ju, que conta com mais de 53 mil seguidores somados no Instagram e YouTube — dados da segunda quinzena de novembro de 2020 —, também entendeu que não precisava postar um número exagerado de conteúdos e agora publica com mais constância, pois conseguiu se organizar melhor e entregar na internet o que faz sentido para ela mesma. O slow fashion já abordado por ela começava a se encaixar com o slow content.

No fim de outubro, publicou um vídeo no YouTube em que fala sobre o slow content como maneira de produção digital.


O público dela, que abrange mulheres de 18 a 24 anos na grande maioria, entende essa  decisão e não existe a cobrança que tantos criadores recebem de quem os seguem. “É questão de acostumar a comunidade a entender a importância do conteúdo e a relevância”, afirma a criadora.

Ela continua com boa parte dos seguidores do início da criação e com os que chegam a todo momento, porém entende que o crescimento é distinto por não criar freneticamente. Entretanto afirma que os conteúdos dela continuam atuais, podendo ser revistos e procurados pela comunidade.

De tal maneira que Ju também não quer que a comunidade fique presa somente no conteúdo que ela posta. “Todos precisam consumir de fontes diferentes para não ter a visão de somente uma pessoa, pois assim não existe criatividade”, ela destaca.

O mesmo acontece no relacionamento com as empresas, que já chegam sabendo como Ju Barbosa produz. O fato dos empreendimentos serem pequenos também facilita, porque funcionam em velocidade desacelerada por padrão — as conhecidas “eupresas”, em que somente a dona da marca faz tudo.

Devagar e sempre

Se antes Ju Barbosa criava sofrendo por antecedência, fazendo tudo em cima da hora e no automático, agora ela consegue planejar um mês inteiro e ter uma semana de conteúdos antecipados. Ela garante que a desorganização ficou na época da faculdade, pois agora usa planner, agenda virtual, bloco de notas e o aplicativo de gerenciamento de projeto Trello para deixar tudo ainda mais visível.

E os benefícios do slow content não param por aí. Agora Ju entende essa organização, produz com mais qualidade e sabe com quem quer falar, além de conseguir ter tempo para vida social, descanso, leitura e ócio criativo: A mente consegue digerir o que consumiu a semana inteira e criar coisas novas; há esse tempo de parar para criação”.

Com posts três vezes na semana, ela conclui que posta menos, mas se compromete com constância, estabelecendo o que pode entregar e tendo um momento de pesquisa e feedback ainda maior.

Enquanto finaliza o TCC da especialização em Moda, Produto e Comunicação na Universidade Estadual de Londrina (UEL), Ju pensa nas metas para 2021. Ela pretende aumentar a frequência de conteúdos, mas isso porque ela conseguirá focar mais nessa parte da vida profissional. Ela quer cuidar mais do lado burocrático da empresa, os bastidores que o público dela não conhece, porém que existe.

Como conselho, Ju Barbosa diz que não se pode deixar o algoritmo influenciar, pois enquanto uns são fáceis de entender, outros são uma incógnita, como o do Instagram. Além disso, ela considera que “é preciso ter responsabilidade e respeito aos outros; crio um conteúdo mais responsável comigo, com o público e com a saúde mental de todo mundo”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário