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Abri a janela do meu quarto e vi um barquinho à deriva. Com suas cores laranja, azul e branco, em vez de me trazer paz trouxe de volta para mim a solidão. O tempo nublado e o silêncio acrescentaram àquela vista uma melancolia sem fim. Senti vontade de receber conforto em um abraço. Mas, como aquele barco, eu estava sozinha.
Então começou a chover. Eram gotas pequenas, finas como os fios de cabelo que balançavam com o vento. Percebi lágrimas se acumularem em meus olhos, porém me controlei para que elas não caíssem. Deixei o barco ainda mais sozinho para me refugiar no sofá da sala lendo um livro.
De vez em quando, voltava a minha janela para ver se o barquinho continuava lá, pois tinha medo de que sua solidão desse adeus a minha. Depois de um tempo, deixei que meus compromissos do dia tirassem da minha mente aquele personagem novo na minha vida. E quando a noite já estava começando, vi um pescador entrar no barquinho e levá-lo para longe no mar.
Percebi que nenhuma vida precisa ser completa de solidão, assim como a daquele barquinho colorido. Ele dava um toque de alegria ao mar e talvez nem estivesse tão triste assim, pois sabia que o pescador chegaria logo que anoitecesse.
Pode ser que a vida nos dê vários motivos para desistir, entre eles o fato de que viver sozinho e enfrentar todas as barreiras é difícil. Mas não devemos desistir. Sabemos desde cedo que sempre depois da chuva o sol aparece para nos alegrar, o cinza dá vida as cores e as lágrimas dão lugar ao nosso melhor sorriso. Foi um barquinho colorido à deriva que me ensinou isso. Ele pode até não saber, mas mudou minha vida de alguma forma.
Vanessa Esteves
[Escrito às 20:50 do dia 04 de outubro de 2015.]
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