Sinto um vazio no peito e lágrimas nos olhos enquanto estudo História e me lembro de meu avô. Com suas histórias inteligentes, me fazia querer ficar horas as ouvindo sem parar. Não importava se falava de política ou de seus anos trabalhando na Marinha do Brasil; todas elas eram interessantes. Enquanto hoje em dia me recuso a discutir sobre política com meus amigos, eu faria de tudo para ter uma tarde de discussões a respeito disso com ele. Porque qualquer coisa que ele falava era regado de importância e veracidade.
E mesmo que nos seus últimos anos de vida eu tenha passado muito tempo perto dele, parece que não foi suficiente. As tardes em que assistíamos Chaves, Pica Pau, futebol e até Malhação em silêncio me mostram hoje que suas palavras tinham hora correta para dar o dom da graça. E que seu olhar sempre me vigiava quando eu me encolhia no sofá. Falando nisso, lembro-me sempre da vez em que acordei com meu avô me cobrindo com seu cobertor. Foi impossível não dormir sorrindo logo em seguida.
Com toda a dureza que ele aparentava por fora, seu coração era exatamente o contrário. Talvez eu não tenha conhecido homem tão amável quanto ele, que sempre deixava eu e meu primo brincarmos com sua máquina de escrever e amava minha avó de forma incondicional. E seus pés já cansados dentro daquele chinelo de quarto demonstravam o que ele já tinha vivido, mas nem a sua tentação por doce o deixou cair.
Ah, e que felicidade quando ele ganhou de meu primo sua primeira televisão de plasma! Era possível ver seus olhos brilhando ao assistir a um jogo de futebol sem precisar bater no controle remoto ou arrumar a antena. Aliás, foi mais do que merecido para o homem que fazia até o impossível por seus filhos.
É impossível, agora, olhar para os cadernos de palavras cruzadas e não me lembrar da agilidade que ele tinha para fazê-las. Com seus cabelos e barba já brancos, meu avô tinha um sorriso de criança ao comer os doces que minha tia fazia e os bolos de minha mãe nas festas de aniversário. Além disso, cantar parabéns para ele era uma alegria e vê-lo soprar mais uma vela, uma bênção.
Agradeço até hoje por não ter precisado vê-lo partir. Mas, se pudesse, voltaria no tempo e daria um último abraço nele, pois em seus braços eu encontrava conforto. Já que não posso, fecho os olhos e me imagino beijando sua testa como fazia enquanto ele descansava no seu sofá preferido. E onde ele estiver, espero que escute o meu sussurro que diz: "eu te amo, vovô".
Vanessa Esteves
Parabéns... Tudo que li me fez lembrar direitinho aquela época. Adorei sua aptidão para expor seus pensamentos. Continue escrevendo. Beijos querida.
ResponderExcluirObrigada, primo! Continuarei sim. Beijos.
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