quinta-feira, 17 de setembro de 2015

O topo da muralha

O despertador toca. Só mais cinco minutos, penso. Viro para o outro lado e cochilo. Mas não adianta, o despertador toca mais uma vez. Decido não insistir mais e jogo o edredom para cima e saio da cama. Então me arrumo, visto qualquer roupa e tento amenizar a cara de sono. Mais um dia, mais matérias de que não gosto, mais rotina. 
O café já está na mesa. Esquento meu leite e como meu pão. Acesso a internet pelo celular e não vejo nada de novo: todos os meus amigos indo estudar. Eu deveria estar pelo menos querendo fazer o mesmo, não? Termino o café apressadamente e desço antes que eu perca meu ônibus.
Encontro as mesmas pessoas no ponto. Algumas me desejam um bom dia, outras deixaram suas almas dormindo e só estão presentes em corpo e eu, bom, eu fico observando o mundo à minha volta, como sempre. O ônibus chega, cumprimento o motorista, pago a passagem e me sento no lugar em que eu posso visualizar o caminho percorrido.
As árvores passam como um borrão, as lojas permanecem no mesmo lugar, as pessoas andam preocupadas e em busca de algo que nem elas mesmas sabem. Eu não quero isso para mim; a rotina me cansa. Talvez para não deixar pensamentos negativos dominarem minha mente, o sol aparece como se fosse meu amigo. Mas eu sei que isso não durará por muito tempo.
Eu queria que o trajeto fosse maior, mas o ônibus chega ao seu destino. As pessoas saem com rapidez e eu sigo o ritmo delas. Caminho até o colégio e minha mente viaja para uma época em que eu gostava de estar ali. Meus amigos sempre vinham correndo me abraçar, brincadeira era o que não faltava e mágoas nunca estavam presentes em nossos corações. As aulas também eram animadas, sempre fazíamos atividades em grupo e quase tudo se tornava algo diferente de sério.
Mas hoje, olhando para todas essas pessoas à minha volta, eu percebo como o tempo mudou tudo. Apesar de não querer desanimar, ver os ombros caídos e escutar os suspiros tristes de quem está perto de mim acaba me deixando para baixo também. Cansa ter aula com os mesmos professores, fazer os mesmos exercícios várias vezes e escutar a palavra “vestibular" quase sempre. Só que se a vida fosse fácil ela seria sem graça.
Eu preciso passar por todos esses obstáculos. Eu preciso mandar o desânimo embora. Eu preciso não desistir dos meus sonhos. Eu preciso ser mais forte do que as vozes que insistem em constantemente me colocar para baixo. E não importa se o que quero no momento é algo impossível, pois eu o tornarei possível. Para mim.
Aprendi com o tempo que não posso deixar pequenas migalhas me atraírem para fora do meu caminho. Eu preciso seguir em frente, por vezes alterando o percurso, mas nunca desistindo do meu objetivo. Criarei, então, uma muralha, para que ela seja o meu desafio e que chegar no topo dela seja o meu maior objetivo. Eu vou conseguir. Eu sou forte. Eu sou invencível naquilo que acredito. Se eu não correr atrás dos meus sonhos ninguém os tornará reais para mim.

Vanessa Esteves

[Escrito às 22:31 do dia 17 de agosto de 2015.]

(Publicado na Revista Its, edição 122, setembro de 2015.)

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