quinta-feira, 7 de abril de 2016

Eu precisava sentir a nostalgia

(WeHeartIt)

Eu só precisava atravessar a rua movimentada e subir o morro. Depois, somente um passo me separava daquela subida que continha tantos momentos inesquecíveis que passei ao lado dos meus amigos de infância. Eu queria poder ligar para cada um deles e dizer quanto sentia falta da amizade. Mesmo revendo alguns de vez em quando, ainda sentia aquela tristeza dilacerante por saber que o tempo passado não voltaria mais.

Ao subir e dar alguns passos, precisei respirar fundo como sempre fazia quando criança e instantaneamente sorri. Se alguém passasse por mim, naquele momento, veria uma garota na penumbra da noite com um sorriso iluminado. Talvez eu precisasse daquilo. Sair um pouco da minha vida sem rotina e com quase sem graça para me aventurar em uma rua do passado. Eu precisava sentir a nostalgia novamente.

Às vezes muitas coisas são tiradas de nós sem ao menos nós podermos dizer adeus. E, para dizer a verdade, eu não gosto e nunca gostei do adeus. Então enquanto eu caminhava e avistava casas familiares, eu percebi que podemos, sim, reaver algumas dessas coisas. Nem todas elas dão um adeus. Algumas delas apenas dizem um até logo. Como a minha escola que apareceu logo após o alto do morro.

Uma sensação inexplicável invadiu meu peito e meus passos ficaram automaticamente mais rápidos. Os portões haviam mudado, o colégio aperfeiçoado, mas eu parecia ter 14 anos ainda, idade em que me formei. Todos os anos em que estudei ali passaram como um filme em poucos segundos em minha mente.

A moça do portão me reconheceu, falou do meu cabelo e achou diferente quando eu disse que iria fazer dança ali. Quando vi minha professora de dança de infância, aquela com quem fiz balé e jazz, com quem tive minhas primeiras apresentações em palco e com quem sentia falta de dançar, corri para o abraço. Assim como quando éramos crianças e chamávamos as professoras de tias, eu não conseguia chamar minha professora de dança da época de outra coisa a não ser de tia.

Assisti ao fim de uma aula de sapateado de crianças com a mesma idade que eu tinha quando fazia balé e ri internamente. Algumas de saia e outras de bermuda do colégio. Aquele azul que tínhamos vergonha na época, mas admito que ainda guardo uma bermuda daquela no guarda-roupa. Eu via a mim e as minhas amigas em cada uma daquelas meninas. Cada uma tinha seu estilo e cada uma me lembrava de uma amiga da época. Senti ainda mais saudade das apresentações em shoppings e supermercados. E mais ainda de ter os braços curtinhos das minhas amigas sempre perto de mim na dança.

Quando a aula a qual eu fui realmente assistir começou, encontrei também nelas as minhas amigas. A mais alta, a mais gordinha, a mais exibida, a mais quietinha, a mais extrovertida. Uma delas elogiou o meu cabelo e eu sorri querendo colocar pra fora um dos meus melhores sorrisos. Depois de assistir a todas elas dançarem músicas que eu conhecia e de ficar com vontade de dançar junto, minha professora recordou comigo alguns momentos na aula de dança. Ah, que saudade. Saí da sala após um abraço cheio de nostalgia e com a vontade de voltar sempre que pudesse.

Como eu disse antes, algumas coisas somente dizem um até logo. Alguns dos meus amigos disseram isso. Meus professores disseram isso. Até meu colégio disse isso. Ou até mesmo não disseram, porém não foi preciso que o fizessem. Mas principalmente, todos os momentos vividos antes voltam, agora, como nostalgia. E eu precisava senti-la novamente.

Vanessa Esteves

[Escrito às 23:45 do dia 06 de abril de 2016.]

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