quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Mais gente sorrindo

(WeHeartIt)
É mais uma véspera de Natal. Como em todos os anos, compro comidas, roupas e brinquedos para doar àqueles os quais precisam do bairro onde moro. É um ato de solidariedade que me deixa mais feliz, com o coração leve, mas que possui um motivo para ter se tornado um clico sem fim em minha vida. Há dez anos, tive que largar meus estudos de enfermeira e sair da casa de meus pais, pois eles tinham se tornado traficantes. Por isso, tive momentos infelizes e um deles foi o de eu ter que morar na rua. Minha vida tinha perdido o sentido, porém eu percebi que ainda existiam pessoas boas no mundo. Algumas das que me viam todos os dias, na calçada, acabaram me trazendo comida e cobertores. Não seria, agora, a hora de eu retribuir todo aquele carinho, repassando-o a outras pessoas?
Enquanto arrumo as mesas com as comidas e embrulho as roupas e brinquedos em papeis de presente, os moradores de rua chegam e logo uma menina de cinco anos vem correndo me dar um abraço. Isso me faz sorrir na hora, mas, ao mesmo tempo, pensar em como seria se minha filha estivesse nesta situação. Alguns segundos depois, reflito sobre quais tipos de pessoas ajudam ou ajudariam quem passa por isso. Será que comente aquelas as quais já viveram algo parecido ou que possuem alguém na família que vive assim? Sempre pensei que a solidariedade seria uma responsabilidade recíproca, na qual eu ofereço carinho em forma de algo substancial para quem necessita e, em troca, o vejo fazer o mesmo. Isso é o que me deixa mais feliz, ainda mais no dia de hoje.
Quando morava na rua, não pedia dinheiro, já que via muitos fazerem expressões faciais feias para aqueles os quais pediam. Não é de esmola que eles precisam. É de amor, carinho, respeito, ombro amigo e, mais importante, um sorriso no rosto de quem ajuda. Porque não adianta nada ajudar sem vontade e nem mesmo ser bom somente no Natal. Eu sei que devo ajudar, pois aquilo que possuo pode ser dividido entre mim e os outros. Não foi o Natal que trouxe isso para o meu coração, mas a vontade de enxergar um mundo diferente e com mais gente sorrindo.

Vanessa Esteves

[Escrito no vestibular UFSC/2016 no dia 14 de dezembro de 2015.]

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